O senhor Lima era um dos poucos civis que vivia, com a sua esposa, na zona de Cabo Ledo, a pouco mais de duzentos metros de distância do nosso Destacamento. Era um brasileiro, muito simpático, responsável pelos poços de petróleo da Petrangol, na localidade de Tobias, que se situava a cerca de dois ou três quilómetros da sua residência.
Devido à sua baixa estatura, era carinhosamente tratado por "Baixinho". Era presença assídua nas nossas festas, e qualquer pretexto servia para organizar uma, que na prática consistia num almoço ou num jantar bem regados. Retribuia-nos sempre na mesma moeda.
Num certo dia do ano de 1972, cuja data já não posso precisar, o pretexto para a festa foi o aniversário do "Baixinho". Os alferes e os furrieis do Destacamento foram convidados pelo casal para comemorar condignamente a data. Seríamos ao todo 8 ou 9 pessoas.
A festa consistiu num piquenique na relva, à beira da piscina, junto à residência do casal. A ementa foi variada, desde lagosta ao frango no churrasco, bem condimentado com gindungo. Bebeu-se de tudo menos água. Whisky, gin, cerveja, vinho, entre outras bebidas, não faltaram.
Algumas horas depois, quando já todos estavam mais ou menos alegres, o aniversariante lembrou-se de fazer uma aposta. Quem saltasse da prancha, que teria cerca de três metros de altura, para a piscina ganharia um grade de nocais (cerveja). Como estavámos vestidos com roupa normal, embora estivéssemos já um bocado cacimbados, ninguém teve a tentação de ganhar a aposta.
O "Baixinho", vendo que ninguém reagiu à sua proposta disse ai vocês não querem ganhar a grade de cerveja? Então vou ganhá-la eu. De seguida, completamente vestido, subiu para a prancha e saltou para a piscina.
A esposa, muito aflita, começou a gritar tirem-me o homem da piscina que vai morrer afogado, ele não sabe nadar. Ainda pensámos que era brincadeira, mas logo verificámos que a senhora estava a falar a sério. E lá fomos nós completamente vestidos para o banho.
Tirámos o homem, que bebeu uns bons golos de água, da piscina e a sua primeira reacção foi dizer ganhei uma grade de cerveja, enquanto não a bebermos a festa não pode acabar. Lá tivemos de fazer um sacrifício e cumprir a vontade do aniversariante. Já não sei o que se seguiu às cervejas, apenas me recordo que a festa continuou pela noite dentro. Era assim que íamos conseguindo mitigar um pouco as saudades que sentíamos dos nossos familiares e das nossas terras.
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