Contam-se muitas estórias, provavelmente algumas delas são apenas imaginação de alguns, mas outras aconteceram mesmo. Quase toda a gente falava das idas aos gambuzinos e aos abacaxis de escada, por isso poucos caiam nessas brincadeiras.
Sempre que chegava um camarada novo a Cabo Ledo era convidado para ir caçar gambuzinos ou apanhar abacaxis de escada. Normalmente mandavam-nos dar uma volta, para não dizer outra coisa, mas recordo-me que um aceitou a nossa proposta.
Explicamos-lhe que o gambuzino era um bicho que servia para fazer um bom petisco, mas que só conseguia caçar-se durante a noite, a altas horas. Explicámos, também, a técnica usada para a caça, ou seja, cinco ou seis pessoas, numa noite escura e sem vento, teriam de procurar um lugar afastado do destacamento, aí a um ou dois quilómetros de distância, formariam um círculo e cada um deles acenderia uma vela que colocaria à sua frente. Um dos elementos tinha a missão de ficar com um saco aberto na mão, onde o gambuzino, assustado com as luzes das velas, havia de entrar algum tempo depois. Até lá, o silêncio tinha de ser absoluto para não espantar a caça.
O homem do saco era sempre o nosso convidado e assim ficou combinada a caçada.
No dia seguinte, por volta da meia noite, lá fomos, escolhemos o sítio apropriado, aí a uns dois quilómetros de distância do destacamento, colocámo-lo o nosso convidado (a vítima) num ponto estratégico, com o saco aberto à sua frente, formámos o círculo, acendemos as velas e, com todas as precauções para que o nosso convidado não se apercebesse, regressamos de imediato à messe do destacamento onde fomos petiscando e bebendo uns whiky's.
O nosso convidado, passadas mais de duas horas, vendo que não entrava nenhum gambuzino no saco e aperecebendo-se que estava sózinho no meio do mato, lá regressou ao destacamento, furioso por ter sido enganado. Até custava a acreditar que ainda havia quem caísse naquelas brincadeiras.
Como praticamente toda a gente sabe, o abacaxi é uma planta rasteira que existe em abundância em Angola, mas parece que alguns ainda não sabiam. Assim, também convidávamos os mais novos para ir apanhar abacaxis, mas imponhamos uma condição, devia ser o covidado a levar a escada. Poucos caiam no logro, mas sempre havia alguém que aceitava o convite. Nesses casos, dirigiamo-nos a uma plantaçao de abacaxis que havia na zona e quando lá chegávamos informavamos o convidado que podia começar a fazer a apanha ao que o mesmo nos perguntava para que servia a escada. É para contares aos teus amigos que já foste enganado.
Seguiam-se sempre alguns impropérios, mas todos nos divertíamos e as brincadeiras acabavam sempre numa grande paródia.
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