17 de Abril de 1971. Data do meu embarque para Angola, a bordo do navio Vera Cruz.
O navio estava atracado no cais de Alcântara. As famílias dos militares apinhavam-se nas varandas da gare marítima, com lenços brancos a acenar. Ouviam-se choros e gritos de mães, pais, esposas, filhos e filhas, namoradas e outros amigos. Era um cenário dantesco. Para alguns, infelizmente, foi o último adeus. Para a maioria, foi apenas um adeus, até ao meu regresso.
Antes do embarque, as companhias desfilavam perante um alto representante militar, com as senhoras do Movimento Nacional Feminino e da Cruz Vermelha Portuguesa a distribuírem lembranças e folhetos com informação da província de Angola. Eu não participei no desfile, porque fui mobilizado em rendição individual. Apenas tinha de embarcar no navio à hora marcada.
Alguns dos meus familiares acompanharam-me até ao cais para a despedida. Assisti a estas cenas, enquanto pude, junto dos meus. A hora do embarque aproximava-se a passos largos e eu não sentia coragem para me despedir. Foi então que me lembrei de lhes dizer que ia colocar as malas no navio e voltava depois para a despedida. Foi uma mentira piedosa, eu sabia que não ia voltar e só eu sei o que sofri nesse momento. E lá parti, sempre a olhar para trás, fazendo-lhes adeus e pensando se seria a última vez que os via.
Foi meu propósito, também, poupar-lhes o choque da despedida. Hoje, julgo que fui muito egoísta e que o choque provocado pela minha decisão de não me despedir foi ainda maior. Quanta dor e sofrimento lhes terei causado naquele dia? Ainda hoje tenho remorsos.
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