Em 29 de julho de 1971, a CART 2731 foi encarregada de dar protecção a um grupo de civis de uma companhia petrolífera francesa, a TOTAL, que andava a fazer prospecção de petróleo na zona do Ambriz. Essa missão foi incumbida ao meu grupo de combate, comandado pelo alferes Costa, infelizmente já falecido.
A missão correu sem incidentes. No regresso, eu e a minha secção seguíamos no último unimog da coluna. Logo à nossa frente seguia o unimog do alferes Costa, com outra secção.
O alferes Costa tinha o hábito de andar sempre com um dilagrama instalado na G3. Nesse dia ao passar por baixo de uma árvore, o dilagrama embateu num dos ramos e caiu ao chão. Ao aperceber-se do sucedido o alferes mandou parar o condutor do seu unimog que, felizmente, só deteve a viatura alguns metros mais adiante.
Quando o unimog onde eu seguia estava a passar no local em que caiu o dilagrama, deu-se a explosão da granada, ouviu-se um enorme estrondo e viu-se uma pequena bola de fogo.
Pensámos tratar-se de um ataque. Saltámos imediatamente para o chão com a viatura em movimento, como que impulsionados por uma mola, e preparámo-nos para a defesa. Quase de imediato, o alferes aproximou-se de nós, perguntando se havia alguém ferido. De seguida explicou o que tinha acontecido.
Por sorte, a granada caiu num grande buraco que havia na valeta da picada e apenas a parte inferior do unimog foi atingida por pequenos estilhaços. Podia ter sido uma grande tragédia, mas a sorte protegeu-nos. Penso que a partir dessa data o alferes Costa nunca mais utilizou dilagrama na G3.
Nota - Para quem não sabe, o dilagrama era um dispositivo que conjuntamente com a granada de mão defensiva M/63 ao qual se fixava, permitia obter - utilizando a espingarda automática G3 - alcances superiores aqueles conseguidos pelo combatente, diminuindo assim o perigo para as nossas tropas.
O dilagrama permitia, ainda, bater ângulos mortos, sendo possível o seu emprego contra guerrilheiros abrigados. O cartucho propulsor sem bala, tinha uma carga de 2,2 gramas de uma mistura pólvora esférica e pólvora tipo 1, não se podendo empregar qualquer outro tipo de cartucho.
Era um dispositivo muito eficaz, mas muito perigoso, porque ao ser utilizado na mata podia bater inadvertidamente num ramo de uma árvore , soltar-se do cano da G3 e explodir. Havia, ainda o perigo, de não ser usado, por engano, o cartucho sem bala e neste caso a granada explodia de imediato quando era disparada a G3. Houve muitos mortos e feridos na guerra do ultramar provocados pelo uso indevido deste dispositivo.
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