O Natal é por tradição uma festa de família, que simboliza paz e harmonia. Foi assim, em família na casa dos meus pais, que passei todos os meus primeiros 21 natais.
Na guerra do ultramar também era costume comemorar a quadra natalícia. Ali, os familiares, sem esquecer os nossos entes queridos que estavam a milhares de quilómetros de distância, eram os restantes camaradas de infortúnio. Mesmo no meio da mata, sem o mínimo de condições, tentávamos transformar a data num dia diferente. Havia rancho melhorado, tentávamos esquecer que estávamos em guerra, organizavam-se pequenos espectáculos com a prata da casa. Até os guerrilheiros pareciam querer colaborar connosco. Salvo raras excepções, não era habitual sofrer ataques ou emboscadas na quadra natalícia.
Faz hoje 49 anos. A noite de Natal de 1971 foi para mim um dos piores dias da minha vida. Como uma desgraça nunca vem só, para além de ter sido o primeiro natal que passei fora da minha família, fui ainda atacado pelo paludismo.
O paludismo ou malária é uma doença infecciosa aguda ou crónica, causada pela picada de um mosquito, que pode provocar a morte, desde que não seja devidamente tratada. O paludismo é muito frequente em Angola. Provoca febres superiores a 40 graus centígrados, intercaladas com arrepios de frio.
Enquanto os meus camaradas comemoravam a noite da consoada, eu ali estava deitado dentro de uma tenda de campanha, no meio da imensidão da mata, ora a arder em febre ora a tiritar de frio, apesar da temperatura que se fazia sentir, ser superior a 30 graus centígrados.
Uma boa dose de resoquina e a doença foi rapidamente debelada. Uma semana depois, na noite da passagem do ano, já estava novamente operacional e já a pude comemorar da melhor forma que nos era possível, nocais (cerveja), whisky, gin, vodka, etc. Estes xaropes nunca faltavam nos nossos acampamentos.
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