Quando éramos mobilizados para a guerra do ultramar em rendição individual o Exército adiantava-nos uma verba de 1.000$00, o equivalente nos dias de hoje a 5€, para suportarmos as despesas de alimentação e alojamento até chegarmos à companhia a que nos destinávamos. As viagens eram pagas com requisições de transporte que nos eram entregues nos quartéis. Aquela verba era depois descontada no primeiro ordenado que recebêssemos na província ultramarina.
Uma vez que não sabia o que me esperava durante a viagem, como precaução, levei, para além daquele adiantamento, mais 2.000$00. Em Luanda troquei apenas 1.000$00 por angolares e se fosse necessário logo trocaria mais.
Aquelas trocas realizavam-se quase sempre em Luanda, na esplanada em frente da Cervejaria Portugália, o ponto de encontro preferido pela tropa portuguesa. Ali havia sempre candongueiros, que queriam trocar escudos por angolares pagando uma percentagem adicional. Normalmente a percentagem era de 10%, mas quando a concorrência era muita a percentagem subia. No meu caso pessoal pelos 1.000$00 recebi 1.100 angolares.
Em Angola, em 1971, a diária de um alojamento rondava os 50$00 e cada refeição custava cerca de 20$00. Depois havia sempre os extras, nomeadamente beber uns copos para aproveitar a oferta de um prato de camarão por cada imperial.
Os 1.100 angolares voaram rapidamente. Por isso, em Nova Lisboa tive necessidade de trocar os últimos 2.000$00 que me restavam por angolares.
Ali já não havia candongueiros para efectuar a troca ou pelo menos eu não os conhecia. Resolvi dirigir-me, por isso, directamente à Agência do Banco Pinto & Sotto Maior, que existia em frente da estação do CFB para trocar os escudos.
Disseram-me que não era habitual efectuar esse tipo de troca mas que, por especial favor, podiam fazê-lo, desde que fosse troca por troca, não havia acréscimo.
Mesmo sabendo que estava a ser enganado, não me restou outra solução que não fosse aceitar (a necessidade assim o obrigava).