Li há dias num blog "Bicharocos é que nem vislumbre...! Às horas que cheguei (16 e picos...) já não eram horas decentes de observar os ditos, disse o guia Nelson...Teria de ser por volta das seis da manhã, quando acordam do seu sono de beleza e se dirigem para a água para o duche matinal...Bom! Lá terei de vir de novo cá! Bichos mesmo, só este passaroco azulão que com o seu olho amarelo arregalado, me fitava desconfiado..."
Ao ler estas linhas pensei: como fui um felizardo conhecer a Kissama nos idos 1972/1973. Como já tinha referido, cerca de dez meses da minha comissão foram passados em Cabo Ledo, onde a Casa da Reclusão tinha um destacamento.
Uma das tarefas que ali tinhamos a cargo era a "psico", ou seja, acções psicológicas que desenvolvíamos quinzenalmente, durante três dias, junto dos aldeamentos de nativos. Estas acções tinham como objectivo captar a população para o nosso lado, através de programas de educação, ajuda sanitária e económica. Por isso, durante esses dez meses percorri várias vezes o parque da Quissama.
Cada vez que saíamos para a picada era um verdadeiro safari. Relembro que na altura não havia estradas asfaltadas no parque, nem tão pouco exisitia a ponte sobre o rio Kuanza. Para atravessá-lo junto à foz era necessário utilizar uma jangada.
Foi pena não haver naquela altura as facilidades que hoje existem para registar aquelas imagens inolvidáveis em fotografia ou vídeo. Avistar imagens como esta era o cenário normal.
Anormal seria percorrer meia dúzia de quilómetros no parque e não avistar uma manada de pacaças, um grupo de leões ou de elefantes, palancas, burros de matos e várias outras espécies de animais de pequeno, médio e grande porte. Aves eram aos milhares.
Quando efectuavamos este tipo de operações dormiamos, por regra, na mata, ao relento. Porém, quando nos deslocavamos para a zona da Muxina, o fiscal (guarda florestal) tinha por hábito convidar o furriel, que normalmente comandava a operação, para dormir nessa noite num dos bungalows que ali havia e que serviam de habitação para o referido fiscal e sua família e de pernoita para os visitantes (na altura eram muito poucos) do parque.
Recordo-me de uma das noites em que ali dormi e em que presencei uma das imagens mais fascinantes da minha vida e que nunca mais esqueci.
Quando me levantei, ao clarear do dia, a vista que tinha à minha frente, a pouco mais de 500 metros de distância, era a do rio Kwanza que serpenteava no meio da planicíe verdejante. Nas suas margens pastavam várias manadas de pacaças, cujo número total de cabeças não posso precisar, mas que pelo aspecto ascenderia a mais de duas centenas. Que quadro maravilhoso.
Condifenciou-me o fiscal que todas os dias, logo pela manhãzinha, era hábito aquelas manadas pastarem naquele local.
Como as coisas mudaram. Provavelmente o Parque Nacional da Quissama nunca mais voltará a ser como dantes, apesar de saber que o governo de Luanda está a desenvolver grandes esforços para o repovoar.
. "Safari" no Parque Nacion...